quinta-feira, 14 de janeiro de 2016

A minha avó Ludovina...

Ontem a minha avó, se fosse viva, faria anos... Não sei quantos anos faria... nem sei bem há quantos anos já morreu. Uns 14 talvez...

Passei o dia a pensar nela e a imaginar como seria ela se estivesse viva, como "viveria" os bisnetos...
A minha avó Ludovina não era uma "típica avozinha", nem mesmo uma avó como as avós dos meus filhos...

Não me ia buscar à escola, não me contava histórias, não me fazia bolinho (apesar de fazer umas broas com um travo a erva doce que lembro até hoje). Não é assim que me lembro dela...
A minha avó Ludovina era uma mulher que teve uma vida muito difícil, que sofreu e passou muito. E isso tornou-a uma pessoa mais amarga, talvez mais triste e por isso não era a típica avó com quem fizéssemos birra para ficar...

Mas também não é disso que me lembro mais, nem é isso que me marcou.

A minha avó Ludovina foi muito importante no meu crescimento. Ela teve grande influência no que sou e penso hoje... O que até pode parecer estranho depois do que escrevi. Mas a minha avó Ludovina ensinou-me, talvez sem saber, que devemos amar os outros mesmo que às vezes eles não sejam doces, que devemos olhar para além do que a pessoa mostra, que dentro de cada um, e principalmente dentro de quem mais sofreu e que construiu uma carapaça, há um mundo de coisas maravilhosas, de sentimentos bonitos...
Que muitas vezes as pessoas só precisam de alguém que as cuide, que se preocupe com elas...

Depois do meu avô morrer, aproximei-me da minha avó, fui com ela muitas vezes ao médico, ia com ela ao cemitério, cuidava dela... Quando adoeceu e depois quando foi para o lar, estive com ela sempre que pude. E depois quando estava já mesmo doente, quando talvez já nem me reconhecia, lembro-me de estar sentada na cama onde ela estava deitada e simplesmente lhe dar a mão. Porque a minha avó ensinou-me, mesmo sem saber, que devemos amar e cuidar. Que por detrás da carapaça que a vida nos veste há coisas maravilhosas a descobrir...

E a minha avó ensinou-me também que devemos cuidar de quem envelhece, pois também nós um dia, se Deus quiser, vamos envelhecer e queremos que alguém nos pegue a mão. Mesmo que tenhamos sido pessoas difíceis, talvez às vezes desagradáveis, temos todos direito a que nos segurem a mão, que nos cuidem...

A saudade fica sempre... e ainda bem pois isso mantém quem já partiu junto de nós... E quem já partiu faz parte de uma parte de nós... e isso é bom recordar sempre...

Joana




terça-feira, 1 de setembro de 2015

Agradeço ao acaso...

O "acaso" marca a nossa vida... Todos os dias, um minuto, uma hora, um momento fazem toda a diferença...

Há uns anos fui ao cinema ver um filme que se chamada "Instantes decisivos" que me marcou. A história era a de uma mulher cuja vida se divide em dois paralelos, sendo que numa das vidas entrou no metro e na outra não. Uma série de peripécias mostram que um instante muda todo o percurso de vida e todas as vivências. No fim (e não vou estragar o final a quem não viu) percebemos que talvez existam algumas coisas que têm mesmo de ser... 

Ora isto vem a propósito da minha reflexão sobre o acaso...

Penso tantas vezes como seria a minha vida se não tivesse tomado pequenas decisões em determinado momento... Decisões talvez sem importância mas que permitiram que coisas enormes tenham acontecido...

Desde o ano passado tenho a certeza de que o controlo que temos da nossa vida é muito limitado,  ainda assim, somos livres de fazer as nossas decisões, as nossas opções e com essas vêm as consequências... "But in the end of the day" não controlamos grande coisa... Há coisas que nos passam totalmente ao lado e outras que nos são oferecidas por "acaso"...

Foi por obra do acaso que conheci algumas das pessoas que hoje são muito importantes para mim... E por obra do acaso aconteceram situações que me permitiram criar laços com essas pessoas...

Foi por acaso que passado um ano de conhecer o meu marido, nos encontramos num qualquer chat da internet... E por acaso metemos conversa um com o outro...

Li num livro que todos os dias é-nos oferecido um momento mágico em que podemos mudar toda a nossa vida, apenas temos de saber aproveita-lo, ainda que possamos não o reconheer...  Confesso que quando li achei muito bonito, mas sem aplicação na vida prática do dia a dia... Agora se pensar bem o acaso existe e tem feito maravilhas... 

Hoje agradeço ao "acaso" as coisas maravilhosas que me tem oferecido :)



 

sexta-feira, 28 de agosto de 2015

O Regresso ao trabalho


Adoro ir de férias!!

Adoro estar com a família, sem horários, sem obrigações... Adoro!
Na verdade a determinada altura do ano a necessidade de ir de férias é enorme! A necessidade de recuperar baterias, esquecer por alguns dias que temos rotina, não ter de assumir maiores decisões do que a escolha da praia a ir ou do fato de banho a vestir...

Como qualquer pessoa adoro ir de férias!

Mas na verdade  também adoro regressar!!! Adoro sentir que tenho para onde regressar... que a minha casa continua igual, que as clínicas onde trabalho continuaram a sua vida, mas esperam por mim; que os meus vizinhos continuam os mesmos...

Adoro sentir a segurança da rotina... Adoro regressar!

Cada coisa tem o seu tempo, o seu momento, a sua duração e por isso tento aproveitar as férias ao máximo e nunca fico com a sensação de que soube a pouco... Obvio que uns diazinhos a mais a não fazer nada saberiam lindamente, mas melhor que chorar o que passou é sentir que o vivemos, o aproveitámos, que foi bom, passou mas foi bom e que depois virão outras coisas, outros desafios, outra rotina...

O ano passado passei as férias de Verão de uma forma diferente, duraram muito mais tempo do que o normal, foram muito mais longas e fiz muitas coisas, mas sinceramente, gostei bem mais das minhas semanas normais de férias deste ano e de poder sentir o prazer do regresso!

O regresso significa que a vida corre bem, corre o seu caminho sem desvios... por isso:

Adoro mesmo regressar!!!

Joana

terça-feira, 16 de junho de 2015

Porque “pedalas” tu?




Hoje ao fim do dia fui fazer uma aula de spinning, (ciclismo indoor) e durante esta aula, como pedalamos sem parar e na maior parte do tempo em esforço, encontramo-nos connosco e com os nossos pensamentos e perguntava-me “porque estava eu ali?”, “Porque pedalava eu como se não houvesse amanhã?”, se ainda estivesse na rua a ver paisagens… Se ainda pedalasse para chegar a algum lado…
“Porque é que apesar das minhas dores insistia em estar ali?”

Na aula de spinning somos chamados a além de fazer exercício físico, a desafiarmo-nos, a abstrairmo-nos e a pedalar sem sabermos o destino final...
Na verdade esta aula assemelha-se em muito ao percurso que fazemos dia –a –dia… Nem sempre caminhamos em direção a qualquer coisa, nem sempre sabemos para onde vamos, como vamos,  se vamos lá chegar…
Simplesmente continuamos a caminhar, a pedalar… Simplesmente avançamos porque parar não pode ser opção.

Quando estou no trabalho e a coisa não está a correr bem, o que muitas vezes me pode apetecer é desistir, parar, abandonar um caso… Mas na verdade que direito tenho eu de fazer isso??? Não aceitei eu o desafio de ter a profissão que tenho? Não aceitei eu o desafio de me comprometer com aqueles que se “entregam” nas minhas mãos? Ainda que a coisa não corra bem, a solução é seguir… continuar…
E aqueles que “pedalam” a nosso lado? Que nos motivam a continuar? Que “suam” connosco e que sentem as mesmas dores? Não merecem esses também que agradeça continuando? Motivando?
E nós próprios? Não merecemos “pedalar” só porque nos apetece?  Não merecemos chegar ao nosso objetivo e sentir-nos realizados? Não merecemos ser plenamente felizes? Claro que sim! Merecemos! Mas também temos de “pedalar” para lá chegar…

E quando estamos mais para baixo qual a solução? Quando temos um problema do tamanho do mundo, qual a solução? Parar? Desistir? Naaaaaa…. A solução é “pedalar” porque só assim ultrapassamos o que quer que nos atrasa, que nos atrapalha, que nos dificulta a caminhada.
Naquele momento pedalava para atingir um limite que sabia conseguir (ou então nem sabia, mas que queria conseguir), pedalava para me sentir mais activa, mais viva…
Todos os dias “pedalo” para continuar bem, para que os que me rodeiam se sintam bem… E vou continuar a “pedalar”!!!!

Por fim quero agradecer a todos os que “pedalam” comigo, que me acompanham, que tropeçam comigo, que me ajudam a levantar… Podemos não saber para onde vamos, mas vamos lá chegar!!!!
Boa noite  

terça-feira, 28 de abril de 2015

Semana de testes...



Esta é semana de testes do João. Confesso que estas semanas põem-me de rastos... Por vários motivos e infelizmente não consigo resolver muito bem isto. Pode ser que quando for a Carolina já consiga :)

Durante todos o ano letivo, mas com mais intensidade nestas semanas de testes, os miúdos são pressionados a estudar muito para terem bons resultados. Eu digo "pressionados" porque é o que na verdade faço, de forma às vezes inconsciente, outras nem por isso. Mas pressiono muito. No fim do dia ou no fim de semana há objetivos a cumprir, exercícios a fazer, erros a evitar. Numa altura em que deveria estar a relaxar, a gozar o prazer de estar com os meus filhotes, estou às voltas com contas, problemas, sistemas, gramáticas, redações.... Ninguém merece... Eu não mereço, mas quem não merece mesmo nada são os miúdos... O meu filho não merece ter de me ver irritada, impaciente e até zangada porque ele não está concentrado...
Quero que ele tenha bons resultados, claro que sim, e por isso esta pressão toda, mas quero acima de tudo que ele esteja bem... E nem sempre consigo... nem sempre consigo contrariar o esquema e o sistema... Na verdade quase nunca consigo...

A minha vontade era dizer-lhe, ó filho vai brincar! Vai aproveitar o restinho da tarde com os manos!! Logo fazes o que souberes... mas e depois? Depois corre mal e eu sinto-me péssima porque não acompanhei devidamente o estudo, não o obriguei a rever a matéria... E ele fica mais feliz se tiver bons resultados...

Nestas alturas sinto-me tão confusa e perdida e não sei mesmo o caminho correto a seguir.

Quando tinha a idade dele não me lembro de ter de estudar assim... não me lembro de ser pressionada assim... É verdade que sempre fui atinadinha e estudava sozinha, mas com 8 anos não me lembro de o fazer com esta importância que hoje em dia o estudo tem...

Acredito que João é um miúdo inteligente, esperto, com raciocínio matemático e por vezes gostava que ele tivesse mais iniciativa no estudo, mas será que eu com a idade dele tinha???
Sei que o João se distrai com facilidade, mas não nos distraíamos todos?? Não tínhamos todos bicho carpinteiro???

O João vai para o 4º ano e nessa altura vai ter um exame!!! A sério??? Um exame em que  os miúdos de 9 - 10 anos se identificam com o CC?????

Não será um exagero??? Ou se calhar sou eu que acho que é demais...

Independentemente disso cá estarei para continuar a acompanhar o meu João, e infelizmente para o pressionar :(

Joana




sábado, 21 de março de 2015

O email que nunca seguiu...


Há já alguns dias que não escrevo. Foram umas semanas intensas em termos emocionais e decidi que o meu próximo post seria dedicado a um amigo que infelizmente partiu cedo demais… Mas não tem sido fácil fazê-lo…

Tinha recebido há poucos dias um email dele a dar-me força num projeto do qual também fazia parte (o teatro de pais) mas que infelizmente este ano, por questões profissionais,  apenas acompanhava à distância. Recebi o email, adorei e pensei: “tenho de lhe responder a agradecer!”… Mas não respondi… Poucos dias depois recebi a fatídica notícia… e doeu muito!  Muito mesmo!

Não que este amigo fosse presença assídua de minha casa por exemplo, ou que nos conhecêssemos há 20 anos, mas não era preciso pois o carinho que lhe tenho é enorme, o respeito que lhe tenho é gigante… E foi preciso muito pouco para que este sentimento crescesse.

O Carlos foi personagem principal de uma das peças que encenei no grupo de teatro de pais, um desafio enorme para ele porque não tinha qualquer experiência e o papel exigia muito. Confesso que no início duvidei… Mas o Carlos ensinou-me ensaio após ensaio que o esforço e a motivação moviam montanhas… Foi um trabalho árduo dos dois, mas maravilhoso e muito compensador!  Ver o meu capitão tão fantástico, tão real, tão entregue às crianças e ao grupo mostrou-me que o amor, a entrega e o esforço constroem magia e tornam o difícil fácil e o impossível possível.

O sorriso do Carlos, a forma como acolhia todos era única e tão natural que qualquer pessoa que teve a sorte de se cruzar com ele ficou “contaminada” pela sua bonita forma de ser…

E para quê esta descrição toda de uma pessoa que a maior parte de vós não conhece? Porque o Carlos partiu cedo demais… Como qualquer pessoa pode partir, sem aviso, sem que ninguém espere, de uma forma até esmagadora!

O Carlos viveu a sua vida e marcou a sua presença. Deixa saudade e muita! E isto leva-me a pensar se andamos a aproveitar cada bocadinho da nossa existência na terra, ou perdemos tempo demais com coisas que não têm importância nenhuma? Digo aos meus filhos que os amo todos os dias, ou preocupo-me mais se eles estão a demorar muito a comer o pequeno almoço? Dedico o pouco tempo que tenho com a minha família a estar com eles a 100% ou estou preocupada com as chatices no trabalho, ou com a irritação que me provoca ter o quarto dos miúdos desarrumado?

Naturalmente, todas as coisas no nosso dia-a-dia têm a sua importância, e o facto de acreditar que devemos viver intensamente, não me torna uma anárquica que tem a casa desarrumada, que não faz planos, que não se preocupa com o dia de amanhã. Claro que me preocupo!!! Preocupo-me com o amanhã! Continuo a tentar controlar as coisas que me rodeiam, mas também sei que estou a viver intensamente e aproveitando o que me é dado!

O Carlos partiu cedo demais, deixa muita saudade imensa e tocou a vida de todos os que o conheceram… Carlos foi uma honra conhecer-te! Até sempre!

sábado, 7 de março de 2015

" Não consigo "

Todos temos limites... É um facto inegável! Todos chegamos a um ponto em que não conseguimos mais e nesse ponto dizemos "Eu não consigo". Mas na verdade detesto esta expressão! Limita-nos, restringe-nos, acomoda-nos!

Cá em casa os meus filhos estão quase proibidos de a dizer. Podem dizer "não estou a conseguir" mas o "não consigo" não. Podem achar que é uma tontice, até porque há coisas que eventualmente não conseguimos mesmo, mas ainda que isso seja um facto nada me deve impedir de tentar. Se eu assumir que não consigo uma qualquer coisa, não me vou obrigar a tentar e até, quem sabe, a conseguir.

Nestes últimos meses em que fui sendo posta à prova dia a dia, em que as dores são imprevisíveis e muitas vezes insuportáveis, tenho a tentação de muitas vezes dizer que não consigo, que não tenho força, mas não me permito isso! Não me permito exigir pouco de mim! A fasquia tem de estar sempre alta, porque assim sei que vou conseguir mais, ainda que não consiga tudo.

E isto deve ser em tudo da nossa vida! As desculpas que muitas vezes arranjamos para a nossa vida, para a nossa rotina, podem estar a limitar-nos e a impedir-nos de fazermos coisas que nos fazem bem e nos fazem felizes. Ainda que tenhamos limitações devemos tentar sempre mais... Sempre!

Esta semana, no meu treino de PT, tive uma dor insuportável na cabeça. Uma dor que me deitou completamente abaixo, física e mentalmente. Sentir-me limitada é terrível. Sei que tenho limites e que os tenho de respeitar e sei que tenho de ser responsável com a minha saúde, mas sentir que o corpo não acompanha a vontade irrita-me! A minha fantástica PT, como profissional responsável que é aconselhou-me a parar, mas eu teimosamente não quis e fiz mais uma série... Foquei a minha energia nos músculos e na minha vontade de contrariar a minha limitação. Foquei a minha energia em tudo o que tenho passado e que não deixo que me deite abaixo. Parar talvez tivesse sido o mais sensato, mas eu precisava de me superar, de dizer aquela maldita dor que não me controla, não manda em mim, nem na minha força, e que quem controla a minha vida sou eu! Agradeço à minha PT porque respeitou a minha teimosia e porque apesar de achar que eu sou meia doida ainda me motivou a acabar a série com energia.

É disso que preciso, de pessoas à minha volta que puxem por mim, que me motivem a continuar e a avançar! Pessoas tão "loucas" como eu que simplesmente não aceitam o "não consigo".

Um destes "loucos" é o meu marido. Foi a sua determinação e a forma como puxou por mim, pela minha força e pela minha fé que me fez confiar e aceitar. Que me ajudou a levantar quando me fui (e ainda vou) abaixo. Que me respeitou quando me apanhava a chorar sozinha, mas também não me deixava ali a deprimir.

Todos temos limites é certo! Mas podemos (e devemos) tentar superá-los...